O presidente do União Brasil, Antônio Rueda, é próximo de um dos personagens centrais na investigação sobre o uso de fundos de investimento para lavagem de dinheiro do esquema de fraudes no setor de combustíveis associado ao PCC, a maior facção criminosa do país.

Maurício Ali de Paula é apontado pelo Ministério Público de São Paulo como coordenador financeiro da Amapapetro, uma das maiores empresas de fachada usadas para dar suporte ao grupo de Mohamad Hussein Mourad, dono da Copape, e um dos líderes do esquema de sonegação fiscal, fraudes contábeis e lavagem de dinheiro no setor de combustíveis. A investigação demonstra que Mourad é o elo principal entre a Copape e chefes do PCC.

Maurício e Rueda aparecem em uma foto de março de 2024, na praia de Cumbuco, região metropolitana de Fortaleza, ao lado de familiares e pessoas próximas. Na ocasião, de acordo com a publicação nas redes sociais a que o Bastidor teve acesso, os amigos curtiram shows de Xand Avião e de Pedro Sampaio.

Nas redes sociais, as conexões de Maurício com a família Rueda vão além do presidente do União Brasil. Maurício é seguido por dois irmãos do dirigente partidário: Mila Rueda, tesoureira do União Brasil, e Fábio Rueda, suplente de deputado federal e secretário da Representação do governo do Acre em Brasília.

Maurício é pai de Guilherme Ali de Paula, personagem central no uso de fundos de investimento para lavagem de dinheiro e operações no Porto de Paranaguá, no Paraná, vinculadas ao grupo de Mohamad, de acordo com o Ministério Público. Análises da Receita Federal apontam uma relação financeira e societária extensa entre empresas associadas ao PCC e fundos e empresas controlados por Guilherme – o rol de negócios envolve de maquininhas de pagamento, fintechs, empresas de participação e factorings.

O órgão aponta que o grupo usa fundos de investimento como um instrumento de ocultação dos verdadeiros controladores de empresas e beneficiários das fraudes. Por essa prática, conhecida “fundo sobre fundo”, os sócios das empresas são fundos de investimento que têm cotistas únicos ou outros fundos como cotistas.

O objetivo, diz o MP, é impedir o rastreamento dos beneficiários finais, reforçado por uma ausência de transparência nos registros da Comissão de Valores Mobiliários. As carteiras desses fundos eram direcionadas a pessoas jurídicas, bens imóveis e móveis do próprio grupo, reproduzindo um circuito financeiro interno.

Segundo os promotores, estrutura foi usada para ocultar a titularidade em aquisições de usinas sucroalcooleiras, veículos e imóveis. A prática cria uma blindagem patrimonial e esconde os donos reais de cada negócio e operação.

A atuação dos Ali de Paula

Maurício é identificado pelo Ministério Público de São Paulo e pela Receita Federal como coordenador financeiro da Amapapetro. A a empresa tem conexões com diversas distribuidoras investigadas ligadas ao grupo Mohamad, da Copape: Aster, Duvale, Arka, Petroworld e Everest. Importou, ao menos, 1,9 bilhões de reais em combustíveis em apenas dois anos – de 2022 a 2024.

A análise fiscal e contábil da Amapapetro expõe uma empresa criada pelo grupo da Copape para importar fraudulentamente combustíveis ao Brasil e revendê-lo a distribuidoras do mesmo grupo. Essa estrutura envolvia fundos de investimento opacos e contratos de mútuo com empresas associadas a Mourad e a outros lavadores que atuam para o PCC.

A Amapapetro, por exemplo, mantém conexão financeira com o Zeus Fundo de Investimento em Direitos Creditórios, citado como instrumento central na rede investigada. De acordo com o MP, Maurício também mantém vínculos com Alan de Souza Yang, conhecido como “China”, e relacionado ao Fundo Zeus.

Guilherme de Paula é descrito pelo Ministério Público como cofundador do grupo Brazil Special Opportunities, o BSO, ao lado de Cleiton Santos Santana. Esse grupo, de acordo com os documentos, opera por meio do Zeus Fundo de Investimento em Direitos Creditórios.

Cleiton Santana já foi denunciado pelo Ministério Público Federal por estelionato e formação de quadrilha e condenado a seis anos e oito meses de prisão pelo Tribunal Regional da 3ª Região. A condenação, contudo, foi extinta no Superior Tribunal de Justiça por prescrição.

Segundo o MP, Guilherme Ali de Paula recebeu recursos significativos da SM Serviços Empresariais, descrita como “shell company”, uma empresa de fachada vinculada a Mohamad Hussein Mourad e usada para lavagem de dinheiro.

“Guilherme Ali de Paula é identificado como uma figura-chave dentro da estrutura investigada, demonstrando sólidos vínculos com o grupo de Mohamad Hussein Mourad”, diz o MP.

A ação da Receita na Amapapetro resultou na autuação da empresa: 169 milhões de reais por ocultação no comércio exterior.

Guilherme foi alvo no mês passado de mandados de busca e apreensão no contexto da investigação da operação Carbono Oculto. Seu escritório de advocacia também. Os fundos Zeus, Brazil Special Opportunities Fund I e Atena Fundo de Investimento em Participações Multiestratégia, ligados a ele, sofreram quebra fiscal e bancária.

Promotores e auditores da Receita consideram que as investigações sobre essas estruturas complexas de lavagem e fraude fiscal estão apenas no começo. Estão confiantes de que o avanço nas quebras bancárias e fiscais permitirá chegar aos chefes do esquema.

Outro lado

Bastidor procurou Rueda, Maurício e Guilherme na manhã desta sexta-feira (19). Enviou perguntas específicas sobre a proximidade e atuação em negócios entre os três. Eles negaram qualquer vínculo comercial.

Em nota, Rueda disse que “embora conheça Maurício Ali de Paula socialmente, não possui com ele nem com sua família qualquer relação comercial”. Leia a íntegra no fim do texto.

Maurício afirmou que não tem nenhuma relação comercial ou negócio com Rueda. Disse ainda que não tem “nenhuma vinculação com a Amapapetro e desconheço qualquer evidência apresentada pela Receita a respeito”.

Guilherme também respondeu que não tem “qualquer relação comercial ou negócio com o sr. Antonio Rueda”.

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